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Os quatro pontos que colocam o Brasil no radar da Pimco, que tem US$ 2 trilhões de ativos sob gestão


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Nos últimos anos, os EUA atraíram liquidez global, mas surgem riscos, levando investidores a buscarem diversificação fora do país, especialmente em emergentes. Pramol Dhawan, da Pimco, aponta que a resiliência desses mercados agora é estrutural, apoiada em fortes balanços e políticas monetárias mais eficazes do que as dos desenvolvidos, hoje enfrentando maiores problemas fiscais.

O ciclo atual favorece moedas emergentes em relação ao dólar, visto como sobrevalorizado, e indica ouro, cripto e moedas locais como proteção. O fluxo institucional para emergentes iniciou recentemente e deve crescer, pois a alocação ainda é muito baixa. O Brasil destaca-se entre os cinco maiores destaques da Pimco, com baixo risco externo, reservas altas, moeda subvalorizada e altos juros nominais, tornando-se atraente mesmo com desafios fiscais internos, dada a expectativa de ajustes após as eleições.

* Resumo gerado por inteligência artificial e revisado pelos jornalistas do NeoFeed

Nova York – Nos últimos anos, os Estados Unidos funcionaram como um “buraco negro financeiro”, atraindo a liquidez global para o seu mercado acionário impulsionado pela inteligência artificial e para seus títulos públicos, que voltaram a oferecer juros reais positivos.

Mas esse magnetismo começa a perder força. Com a inflação persistente, a dívida pública crescente e uma volatilidade inédita, investidores globais passaram a questionar o peso exagerado da exposição americana em seus portfólios.

Para Pramol Dhawan, managing director e chefe de mercados emergentes da Pimco, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, com mais de US$ 2 trilhões sob gestão, o movimento é inevitável.

“Não tem como não estar na tese de IA e em ações americanas, mas há muitos motivos para buscar renda fixa fora dos EUA. E, para nós, mercados emergentes são a melhor diversificação”, afirma Dhawan.

Segundo ele, a Pimco tem hoje uma de suas maiores convicções em bonds de emergentes, apoiada em três fatores principais: desvalorização estrutural das moedas fiduciárias, como o dólar; subalocação histórica de investidores nesses mercados; resiliência estrutural das economias emergentes, que desta vez não dependem do ciclo das commodities.

“Desta vez, não é um fenômeno cíclico como no começo dos anos 2000. É uma resiliência apoiada em balanços sólidos, ativos de qualidade e necessidade real de diversificação”, diz ele.

Confira, a seguir, os principais destaques da conversa de Dhawan com jornalistas na sede da gestora em Nova York.

Prêmio de risco

Dhawan destaca uma assimetria nos prêmios de risco: os países desenvolvidos, tradicionalmente vistos como mais seguros, são hoje os que exibem os quadros fiscais mais frágeis — enquanto emergentes mostram políticas monetárias mais responsáveis e bancos centrais com credibilidade reforçada.

“Os emergentes começaram o aperto monetário antes e agora já têm inflação pré-Covid. Hoje, os cinco países com piores problemas fiscais são todos desenvolvidos: França, Reino Unido, Bélgica, Japão e EUA.”

A inversão também aparece nos ratings de crédito. 2024 foi um ano recorde de upgrades entre emergentes, tendência que deve continuar em 2025, enquanto os desenvolvidos caminham na direção oposta. O resultado está nos spreads de crédito. Enquanto nos países ricos é quase zero, os retornos reais vão de 3% a 8% ao ano nos emergentes.

Fim do dólar como porto seguro

Outro sinal dessa mudança está no comportamento do câmbio. O atual ciclo do dólar, que dura de 10 anos a 15 anos, entrou em fase de depreciação — e, pela primeira vez, a moeda americana deixou de se valorizar nos momentos de estresse.

“No ‘Liberation Day’ de abril, as bolsas caíram, os treasuries abriram e o dólar também caiu. Isso mostra que o dólar já não protege quando os EUA são o epicentro do problema”, diz Dhawan.

Segundo ele, os modelos da Pimco indicam que o dólar está 15% sobrevalorizado, enquanto moedas de países asiáticos como Japão, China, Coreia e Taiwan estão subvalorizadas entre 25% e 50%. “Se o investidor quer diversificação real, há três ativos naturais: ouro, cripto e moedas locais de emergentes.”

Mundo multipolar

Na avaliação da gestora, o mundo caminha para uma nova ordem multipolar, em que os EUA deixam de ser a única força dominante. “Não se trata de ‘vender a América’, mas de escolher onde estar nela. Ignorar a rentabilidade da renda fixa emergente não é mais uma opção”, afirma Dhawan.

Por ora, os investidores institucionais ainda estão apenas começando essa discussão. A Pimco acredita que o fluxo relevante deve começar em 2025, quando fundos de pensão e grandes investidores ajustarem suas políticas de investimento.

“Hoje, emergentes representam só 3% dos portfólios globais. Todos estão extremamente subalocados. Só voltar ao neutro já seria um grande fluxo. Temos 20% a 30% dos portfólios em risco de emergentes, o maior nível dos últimos dez anos. Esperamos um grande ano em 2026”, diz o MD da Pimco.

Brasil volta ao radar

Dentro desse universo, o Brasil está entre os cinco mercados preferidos da gestora. A combinação é atraente: baixo risco externo, reservas elevadas, carrego real alto e ativos descontados. O único ponto de atenção é o fiscal – embora, para Dhawan, o problema é mais simples de resolver do que nos países desenvolvidos. “A dívida brasileira é interna, sem risco cambial. Uma sinalização mínima de ajuste fiscal já reduz juros e acomoda a trajetória da dívida.”

Ele vê potencial de valorização do real frente ao dólar e prefere ativos nominais — com juros de até 15% ao ano, o Brasil é um dos melhores cases de carry trade do mundo. Dhawan também aponta o avanço da desdolarização comercial como tendência que pode fortalecer ainda mais a moeda brasileira.

“No mundo multipolar, países negociarão mais em suas próprias moedas. A China, maior parceiro comercial do Brasil, pode vir a ter dívida local em real — o que daria suporte adicional à moeda.”

O ponto sensível segue sendo a volatilidade, fruto da liquidez do mercado brasileiro, que atrai investidores de curto prazo. “O Brasil está entre os três a cinco melhores destinos. A moeda está barata por qualquer métrica, a bolsa está deprimida. Dá para comprar dívida local sem hedge e ficar bem”, diz  Dhawan.



Fonte: NeoFeed

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