Internacional

Putin troca tanques por motos em nova tática contra Ucrânia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um vídeo que emergiu da linha de frente em Pokrovsk, no leste da Ucrânia, provocou chacota imediata entre os críticos da invasão de Vladimir Putin da Ucrânia. Nele, soldados russos chegam à estratégica cidade a pé, em motos e antigos carros soviéticos.

Na realidade, o que parece um assalto do Exército de Brancaleone ou uma paródia das distopias apocalípticas da cinessérie “Mad Max” é a realidade do combate nas áreas de atrito e um teste para a nova tática empregada pelas forças de Putin no conflito, talvez a última possível. Se der certo, pode ser um novo ponto de inflexão na guerra.

 

“A frente mudou, agora somos deixados até 30 km distantes do alvo e temos de ir sozinhos até lá”, disse por mensagem à Folha de S.Paulo o soldado Pavel, que como é praxe dos dois lados não pode ter seu sobrenome divulgado.

Ele lutou nos arredores de Pokrovsk até a semana passada. A terra de ninguém, que até 2023 tinha cerca de 10 km de largura na região, agora tem 50 km. “Antes, entraríamos lá com BMP-3, em grupos grandes. Agora é isso, temos de carregar nosso equipamento, 30 kg nas costas, relata o militar.

O motivo é a infestação de pequenos drones armados com granadas e outros explosivos, empregados maciçamente pelos beligerantes de lado a lado. Eles impedem o movimento impune de blindados como o modelo de transporte de pessoal citado por Pavel.

Isso explica outro item importante do vídeo: a neblina, que impede a ação eficaz dos operadores de drones. Isso levou os russos a mobilizar algumas forças blindadas, mas ainda não em grande número.

“Nosso tempo de reação é mais curto com o tempo ruim. As estradas estão lotadas de drones russos, nenhum veículo pode entrar ou sair da cidade”, escreveu no Telegram um soldado ucraniano de prenome Ihor, que sereve no 7º Corpo de Paraquedistas da Ucrânia.

Segundo a unidade publicou no Facebook nesta terça, há ao menos 300 soldados russos dentro de Pokrovsk. O número é pequeno e contrasta com os 50 mil que o presidente Volodimir Zelenski diz que Moscou usa na operação, e não é uma contradição.

O ataque inicial da guerra foi em três grandes frentes frontais e desconectadas, vindas das Crimeia, da Donetsk em mãos de separatistas pró-Moscou e do sul russo e Belarus. Ele fracassou em tomar Kiev, mas garantiu a atual fatia de 20% do território ucraniano sob controle de Putin.

Depois, as ações se concentraram na linha de atrito, com os russos empregando forças maciças. Deu certo pontualmente, como em Avdiivka (Donetsk), mas a ascensão dos drones impediu sua continuidade.

Agora, os generais de Putin buscam engajamentos com menos tropas, focados em pontos vulneráveis das defesas de Zelenski, e só depois tentar entrar com blindados e tanques.

Com efeito, a corrida para reforçar Pokrovsk e evitar a queda do centro logístico que defende as duas cidades principais ainda sob controle de Kiev em Donetsk, Kramatorsk e Slaviansk, gerou problemas em outros pontos.

Mais o norte, em Kharkiv, região que nem faz parte do cardápio oficial de exigências russas, o Ministério da Defesa russo anunciou ter tomado nesta terça a metade oriental da vital Kupiansk, cidade que dá acesso à capital homônima da área, o segundo maior centro urbano da Ucrânia.

Os russos não parecem ter mão de obra para tentar um assalto à capital, mas podem repetir o cerco punitivo do início da guerra, que fracassou quando também por erros táticos e falta de soldados acabaram expulsos da região.

Além disso, a Ucrânia confirmou nesta terça ter recuado de cinco vilas na região de Zaporíjia (sul), por não ter como defendê-las. Zelenski, que lamentou o tempo ruim como fator favorável aos russos em uma postagem após visitar a cidade de linha de frente de Kherson (sul), disse que os ataques na região “estão intensos”.

Segundo o especialista em geopolítica americano George Friedman, a aposta de Putin pode dar certo. “Uma guerra lutada desta forma é uma questão de aritmética”, escreveu na segunda (10) aos clientes de sua consultoria Geopolitical Futures.

Ele nota que Moscou tem muito mais soldados à disposição, mas isso não é tudo. “A habilidade dos russos em manter esse ritmo é muito problemática. Se a Rússia acha que os números estão a seu lado, isso pode explicar por que Putin ainda não aceitou uma trégua. Na minha visão, é sua última boa jogada”, afirmou.

O russo resistiu à iniciativa de Donald Trump de fazer a paz, exigindo seus termos maximalistas de cessão das quatro áreas que anexou ilegalmente em 2022 e outros pontos. O presidente americano elevou a pressão com sanções no setor petrolífero, evitando contudo fornecer mísseis avançados a Zelenski, mas até aqui Putin não cedeu.

A Ucrânia diz que está resistindo em Pokrovsk, mas não comentou a ação em Kupiansk. Além disso, bombardeios ao seu sistema energético estão deixando a situação crítica no país: no domingo (9), quase todo o território teve de ficar 16 horas sem luz. Na guerra assimétrica que trava, atacou novamente a refinaria russa de Saratov com seus drones domésticos.





Fonte: Notícias ao Minuto

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