Oito empresas estão no páreo para a aquisição da Medley, divisão de genéricos no Brasil da farmacêutica francesa Sanofi, que adquiriu a companhia em 2009.
O NeoFeed apurou que Aché, Althaia, Cimed, EMS, Eurofarma, Hypera, Torrent e União Química são as oito farmacêuticas interessadas nos ativos da Medley. Com assessoria financeira do banco de investimentos Lazard, a primeira fase do processo de venda será fechado na sexta-feira, 31 de outubro.
Até o fim de outubro, todas as empresas terão acesso aos resultados financeiros da Medley. Algumas já receberam os dados, apurou o NeoFeed. A Sanofi informou que a farmacêutica brasileira terminará 2025 com faturamento de R$ 1,3 bilhão e Ebitda de R$ 200 milhões. A empresa afirmou que não tem dívidas.
Ainda que a receita seja dentro do que o mercado espera, o Ebitda está abaixo do que as próprias concorrentes previam, que seria algo em torno de R$ 260 milhões. A explicação para o desempenho aquém do esperado tem a ver com o processo de separação da Medley de sua controladora, justamente para facilitar a venda.
“Eles perderam parte da sinergia com a divisão das unidades. E, na conversa, os franceses tentaram mostrar que essa não pode ser uma razão para a redução do valor da proposta”, diz ao NeoFeed uma fonte a par do assunto e com acesso direto às informações do processo de venda da Medley.
“O que eles querem é que os ofertantes não sejam pessimistas sobre o futuro da empresa. A conversa com as companhias foi para deixar claro que quem entender que ela tem potencial vai colocar um prêmio maior e pode sair ganhando”, complementa essa fonte.
Pelos números apresentados, os executivos das companhias farmacêuticas ouvidos pelo NeoFeed calculam que o braço de genéricos da Sanofi no Brasil seja vendido por algo entre US$ 450 milhões e US$ 500 milhões. A Sanofi pagou R$ 1,5 bilhão pela Medley.
Com o fechamento da primeira fase, a Sanofi entrará na segunda etapa do processo de venda. Na segunda quinzena de dezembro, a empresa espera receber as ofertas não vinculantes, com os valores de cada concorrente.
Vencida esta etapa, quando a expectativa é de que a Sanofi estabeleça um shortlist de três a quatro companhias que, de fato, vão brigar pela Medley. A previsão é de um período de diligências e de encontros presenciais com o management da Sanofi e da Medley, avançando nas propostas. Isso vai ocorrer em janeiro e fevereiro de 2026.
Neste período, vai ser aberto a possibilidade de que as interessadas contratem uma auditoria externa para se debruçar sobre todos os números da Medley. Se tudo ocorrer como o planejado, a expectativa é que tudo seja concluído até março de 2026.
A perspectiva é de que o processo de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) leve todo o ano de 2026. No plano da Medley, a nova compradora assumirá oficialmente a empresa em janeiro de 2027.
No acordo previsto, a fábrica da Medley em Campinas (SP) vai produzir 80% dos produtos da empresa e os outros 20% seguirão sendo produzidos na unidade da Sanofi de Suzano (SP). A capacidade de produção da Medley é de 300 milhões de unidades ao ano.
A razão de não repassar toda a linha produtiva está no fato de que a fábrica da Medley está no limite de sua capacidade, e seria necessário a compra de novas máquinas, o que a Sanofi não pretende fazer neste momento.
Os potenciais compradores já assinaram o Non Disclosure Agreement (NDA), um acordo de confidencialidade sobre o processo de venda.
Quem conhece a empresa
A surpresa do mercado foi a presença na disputa da Althaia, farmacêutica fundada em 2010 por Jairo Yamamoto, que foi CEO da Medley por 19 anos, entre 1991 e 2010, justamente no período da venda da família Negrão (fundadora da empresa) para a companhia francesa.
“Ele tem uma relação afetiva pela empresa, e isto é um ponto importante para que ele possa seguir na disputa”, diz outro especialista da indústria farmacêutica, também com conhecimento do deal.
Executivos de empresas que estão no negócio da venda da Medley acreditam que, para conseguir fazer uma proposta viável e competitiva, a farmacêutica de Yamamoto fará uma oferta em conjunto com um fundo da XP.
O banco já esteve com a Althaia durante o processo de abertura de capital da empresa, em 2021, que acabou não avançando. O pedido de oferta pública inicial de ações (IPO) ocorreu em julho daquele ano, mas foi interrompido devido à “conjuntura adversa do mercado”.
“O Jairo conhece bem o ativo e busca as informações com as empresas de inteligência de mercado. E no mercado já se fala nessa parceria com a XP”, informa um executivo ligado diretamente ao setor e que conhece as companhias que estão na disputa.
Em agosto, o NeoFeed revelou que a EMS já tinha tomado a decisão de fazer uma oferta de US$ 500 milhões pela Medley, principalmente pela possibilidade de consolidação no segmento de genéricos no Brasil e pela sinergia a partir da proximidade dos parques industriais das duas empresas.
O que colocaria a empresa da família Sanchez em vantagem nessa negociação, segundo lideranças do setor consultadas, é o fato de a empresa não ter dívidas, ao contrário de Hypera e até da Eurofarma, que teriam mais dificuldades em captar recursos.
No caso da Cimed, a participação é vista como uma oportunidade para a empresa de João Adibe Marques ter mais dados sobre uma concorrente importante, sem necessariamente significar uma intenção de ir até a última fase. Além disso, a empresa tem mirado na área de consumo como uma das principais avenidas de crescimento.
Das concorrentes pela Medley, a única estrangeira é a Torrent, uma farmacêutica indiana que está em operação no Brasil há 23 anos.
Procurada pelo NeoFeed, a Sanofi não respondeu sobre o processo de venda, mas falou sobre a separação da Medley da farmacêutica francesa.
“Neste momento, conforme anunciado recentemente com a nomeação de Lucia Rossato como diretora geral da Medley, o foco da Sanofi está em consolidar o processo de independência de sua unidade de negócios de genéricos, iniciado em fevereiro de 2025”, diz a empresa, em nota.
“O objetivo do processo de independência é liberar todo o potencial da Medley como líder no mercado de genéricos, com maior autonomia para inovar, crescer e responder rapidamente às demandas do setor”, completa a companhia.
A EMS confirma a intenção da compra e a participação do processo, mas não quis detalhar os próximos passos. Eurofarma, Hypera e XP disseram que não iriam comentar.
Em nota, a União Química informou que “acompanha a movimentação do mercado, sempre analisando oportunidades. No momento, não temos nenhum ponto a acrescentar sobre os rumores”.
Procuradas, Cimed, Aché, Torrent e Althaia não retornaram o pedido de entrevista.