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O “prêmio escondido” que a Vale encontrou no minério de ferro


A Vale está no caminho de recuperar o posto de maior produtora de minério de ferro do mundo. Até 2030, a mineradora deve alcançar 360 milhões de toneladas produzidas anualmente, 30 milhões a mais do que a empresa liderada por Gustavo Pimenta vai entregar neste ano.

Ao mesmo tempo em que trabalha no aumento do volume da produção, a Vale dá passos firmes para consolidar uma transformação estrutural e conquistar diferenciação em um mercado de commodities. E os clientes têm pagado a mais por isso.

“O produtor de commodity normalmente produz o que dá e depois empurra no mercado. A nossa abordagem tem sido: o que o cliente está precisando?”, diz Marcelo Bacci, CFO da Vale, no Números Falam, programa do NeoFeed.

Em outras palavras, a Vale tem encontrado dentro de suas minas a flexibilidade – que também pode ser lida por tipo – do minério de ferro que se adequa àquilo que os clientes precisam. O reconhecimento está no prêmio que a mineradora tem conseguido “extrair” do seu produto.

Essa diferença positiva entre o preço médio de venda da Vale e a referência internacional do minério de ferro faz parte da nova estratégia de diferenciação da companhia.

“No trimestre anterior, o prêmio que nossos clientes pagavam pelo minério da Vale era negativo. Agora, ele ficou positivo em US$ 0,70 por tonelada”, afirma o CFO. “O mercado está reconhecendo valor nessa estratégia. Estamos capturando preço, mesmo num ambiente de volatilidade.”

No terceiro trimestre deste ano, a margem operacional da companhia subiu para 42%, três pontos percentuais acima dos 39% registrados no terceiro trimestre do ano anterior – um indicador que reflete ganhos de eficiência mesmo com pressões de custo em determinados segmentos.

O trimestre também foi importante front financeiro. O fluxo de caixa livre da Vale cresceu 337%, chegando a US$ 2,53 bilhões. Esse resultado permitiu à companhia distribuir US$ 1,5 bilhão em dividendos e reduzir a dívida líquida em US$ 800 milhões no período, encerrando setembro com endividamento de US$ 16,6 bilhões.

“Nossa dívida líquida está em US$ 16,6 bilhões e queremos trazê-la para perto de US$ 15 bilhões no fim do ano. É o nosso sweet spot”, afirma Bacci.

Confira, a seguir, trechos da entrevista com o CFO da Vale, que você pode assistir na íntegra no vídeo que está acima.

O Ebitda ajustado da Vale cresceu 21% no terceiro trimestre. O que ele mostra sobre o momento da companhia?
O mais importante é que estamos mais eficientes e mais próximos do cliente. Tivemos um trimestre de forte produção e custos controlados, mas o destaque é a forma como operamos. Entendendo o que cada cliente precisa e entregando o produto certo. Essa mudança de mentalidade começou no início do ano e está começando a aparecer nos resultados.

O que isso significa para uma mineradora?
Tradicionalmente, o produtor de commodity faz o que consegue e depois tenta vender. A nossa abordagem é o oposto. Entender a necessidade do cliente e usar a flexibilidade das nossas minas e da nossa cadeia de suprimentos para entregar isso. Essa é a grande virada de uma empresa de produção para uma empresa de relacionamento.

Essa mudança já traz retorno financeiro concreto?
Sim. O reflexo mais claro está no chamado prêmio que os clientes pagam pelo nosso minério. No trimestre anterior, ele era negativo, ou seja, nosso produto estava sendo vendido abaixo da referência. Agora, ele virou positivo, chegando a US$ 0,70 por tonelada. Isso mostra que o cliente está reconhecendo valor na nossa entrega personalizada e pagando mais por ela. É a tradução prática dessa nova estratégia.

Em outras palavras, a Vale conseguiu diferenciar uma commodity?
Exatamente. Temos um portfólio muito diversificado, com minas com diferentes concentrações e unidades que permitem misturar, concentrar e ajustar o produto às necessidades do cliente. Essa flexibilidade é rara no setor e é o que nos torna mais resilientes em momentos de volatilidade.

“Temos capacidade de chegar perto de 400 milhões [de toneladas de minério de ferro ao ano], mas fazemos isso conforme o mercado”

A empresa pode voltar a ser a maior mineradora do mundo?
Estamos buscando produzir cerca de 330 milhões de toneladas neste ano e, até 2030, chegar a 360 milhões. Temos capacidade de chegar perto de 400 milhões, mas fazemos isso conforme o mercado. Se a demanda crescer, especialmente na Ásia, temos estrutura para acompanhar.

Como está o mercado consumidor de minério de ferro?
A China ainda representa cerca de 60% das nossas vendas e do consumo global. O país não cresce mais como antes, mas a demanda está estável. O destaque tem sido o crescimento de Índia, Sudeste Asiático e Oriente Médio. Há dois anos não vendíamos nada para a Índia e, neste ano, vamos vender cerca de 10 milhões de toneladas. É um novo mercado relevante.

No terceiro trimestre, a Vale reduziu a dívida e aumentou a geração de caixa?
Temos uma política de manter a dívida líquida entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões. Hoje estamos em US$ 16,6 bilhões e queremos chegar a US$ 15 bilhões até o fim do ano. É o nosso sweet spot. Isso nos dá flexibilidade para investir e estabilidade para atravessar ciclos de preço.

“O cobre é a grande oportunidade. É o mineral da transição energética porque está em carros elétricos, data centers, redes e sistemas de inteligência artificial”

Onde estão as novas frentes de crescimento?
O cobre é a grande oportunidade. É o mineral da transição energética porque está em carros elétricos, data centers, redes e sistemas de inteligência artificial. Hoje produzimos cerca de 350 mil toneladas por ano e queremos dobrar esse volume em dez anos. É um projeto de longo prazo, mas decisivo para o futuro da Vale.

O níquel perde espaço?
O níquel cresceu muito com o avanço das baterias, mas hoje há excesso de oferta e preços baixos. Por isso, o foco maior é o cobre, que combina demanda crescente e projetos mais complexos de oferta. Ainda assim, continuamos bem posicionados nos dois mercados.

E qual vai ser o próximo número a ser entregue pela Vale?
O custo caixa entre US$ 20,5 e US$ 22 por tonelada de minério de ferro. Foi o que prometemos e é o que vamos entregar. O investidor vai gostar de ver isso no balanço de fevereiro [de 2026].



Fonte: NeoFeed

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